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Sunday, October 22, 2006

O CARINHO À SABEDORIA

O primeiro equívoco da educação passa por nos imaginar, a todos, aprendendo da mesma forma, reprimindo-nos sempre que tentamos compreender de outra maneira, esquecendo que tudo o que nos motiva para aprender é a motivação dos mais crescidos para reconhecer o que nos distingue uns dos outros, muito mais do que aquilo que compartilhamos de comum, com eles.

O segundo equívoco da educação reside na forma como nos premeia, ao repetirmos. E nos castiga, se copiarmos. Dentro do mau, copiar é menos mau que repetir. Copiar acaba por representar uma insubordinação contra a repetição. Enquanto repetir é a assunção submissa, de uma cópia. Quer dizer, repetir é o contrário de aprender.

O terceiro equívoco da educação passa pela ideia que os mais velhos cumpre educar os mais novos. Não é verdade que seja assim. Educação é reciprocidade. Os mais novos só aprendem aquilo que já sabem. A escola torna mais simples e mais exequível tudo o que já sabem e, só por isso, o seu pensamento se abre para níveis de complexidade maiores. Os mais velhos só aprendem quando aceitam que, para educar os outros, é necessário, em primeiro lugar, aprender com eles. E isso só é possível quando, nas intenções da educação, a aquisição de conhecimentos for substituída pelo carinho à sabedoria.

O quarto passa pelo pressuposto de que educar se faz de bons conselhos e de soluções adequadas quando, em rigor, a educação é tudo o que se os bons exemplos são capazes de nos dar. Os exemplos de boa educação dos pais e dos professores são mais preciosos do que a educação cívica, os exemplos de respeito pela higiene sanitária ou pela saúde alimentar na escola são mais importantes do que a educação para a saúde, e os exemplos de utilidade de um conhecimento são mais importantes do que a demonstração cientifica que se faça a partir dele.

O quinto, finalmente, passa pela ideia de que a educação serve para ganhar a vida. Não é verdade. A educação serve para viver mais ousadamente com a ideia de morte (sem que, todavia, se fuja à sua presença organizadora na relação com a vida). E só se ganha a vida quando se descobre que a primeira função de quem gosta de nós não é tirar-nos dúvidas mas pôr-nos problemas, não é dar-nos respostas, mas encaminhar-nos pelas dúvidas, não é estimular a hipocrisia mas estimar a verdade.

Tenho dito que a escola foi a invenção mais bonita da humanidade, e que a educação para todos foi a maior (e mais tranquila) de todas as revoluções. E será ainda mais bonita e revolucionária se promover a diversidade e a criatividade, a reciprocidade e os bons exemplos, a formação humana e as relações que, entre as dúvidas e as perguntas, acarinham a sabedoria.

Eduardo Sá, Revista Noticias Magazine – 22 de Setembro de 2006

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